O primeiro álbum dos Chuchurumel, «No Castelo de Chuchurumel», apontava já as pistas seguidas pelo duo de Julieta Silva e César Prata neste segundo trabalho, «Posta Restante». Mas com a diferença, fundamental, de que enquanto no primeiro disco essas pistas levavam a caminhos diferentes, raramente se cruzando ou intersectando - num dos caminhos havia recolhas de música no terreno, no outro o próprio trabalho do grupo, mas sem ligação óbvia entre os dois «universos» -, em «Posta Restante», pelo contrário, as recolhas encaixam-se na perfeição na música do grupo. Mais a mais, uma música que evoluiu imenso em invenção, experimentação, tentativa - quase sempre muito, muito bem conseguida - de levar uma música antiga, rural, rude na sua origem, para a modernidade, uma certa urbanidade global, um grau de sofisticação raro em projectos portugueses. Em «Posta Restante» - assim chamado porque cada canção é uma «carta» a pessoas conhecidas ou anónimas que lhes deram a conhecer a maioria destes temas (embora também haja alguns originais dos Chuchurumel) - podem ouvir-se guitarras sintetizadas em distorção, programações trip-hop, vozes arrancadas à terra (como a senhora de «Coquelhada Marralheira»), sanfonas, acordeão e gaitas-de-foles, gravações de vários ambientes - os disparos a dar a base de «Rico Franco» ou o ritmo do moinho de água são um achado -, aproximações a danças europeias e até ao fado. E sempre com um bom-gosto irrepreensível. (9/10)
8 de maio de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Já não acreditava ser possível misturar e dar sentido a tanto de passado e a tanto de futuro.
Sons, imagens e vidas de combinação mais que inesperada, reunidos pela sensibilidade e bom gosto de quem os "manufactura" com esta beleza.
Uma delícia para quem não quer e não pode esquecer as raízes deste povo que somos.
Bem hajam!!!
Laura,49 anos, com a concordância de Henrique, 17anos
Enviar um comentário